sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Após 50 días - "SÓ SEI QUE NADA SEI"

Após 50 días, ressurge, renasce, retoma...[e mais alguns re(s)] as boludicess..

Hoje disse uma frase "inédita": Só Sei que nada Sei, aí lembrei que sei de um texto/poema que (re)trata formidavelmente:

Só sei que nada sei

Eu que tive a ilusão de romper
certas algemas da vida,
pois lera, nos livros sagrados,
os sinais da salvação,
não consigo, agora, dobrar
os ferros da solidão.
Filho de Sócrates e Descartes,
analítico, ousei singrar
nessa ilusão bem humana
de chegar a Deus só a pensar.
E, rendilhando paradigmas,
no pensar do pensamento,
por tanto ousar duvidar,
já não sei rezar sem racionalizar.
Homem crescido,
e como tal reconhecido,
pelo papel selado
das certidões oficiais,
nem sequer posso voltar
às nostálgicas certezas
do colo de minha mãe.
Na escola onde, outrora, fui aluno,
eis-me, agora, professor,
neste meu ter de ensinar,
entre as coisas que aprendi,
tantas coisas que não sei.
Nosce te ipsum!...
Cogito, ergo sum!...
Erudito e letrado, feito doutor,
na própria cátedra já assentado,
confesso ter lido, e relido,
montanhas de papel inanimado,
bibliotecas inteiras
de pensamento pensado.
E, de tanto recolectar
fragmentos, fichas e rodapés,
que, muito hierarquicamente,
fui classificando,
como engenheiro de conceitos,
nas teias sistémicas
de uma qualquer teoria,
foi do próprio espaço vivido
que acabei por me esquecer.
Essa máxima universal
de todos sermos iguais,
de todos podermos ter,
pela simplicidade dos sinais,
um conhecimento modesto
sobre as coisas mais supremas.
Por muito procurar,
fora de mim,
o que, por dentro,
guardava,
fiquei, assim,
encruzilhado.
Mas, de tantos planos inacabados,
aprendi, pelo menos, a duvidar
das próprias regras do método,
daquele pretenso rigor,
muito axiomaticamente dedutivo,
que, por lei, dizem que sei.

Obs: Infeslimente não sei o autor.